Análise Digital/Presencial
Representação e Experiência do Espaço Urbano
Com os conceitos de Hertzberger em mente, todos devem fazer um passeio no Google Street View em sua cidade (vizinhança ou lugar fácil de ir fisicamente depois).
A ideia é que vocês sejam capazes de distinguir a percepção sócio-espacial via representação (mediada por ferramentas digitais) da presencial (experiência imediata). Isso parece óbvio, mas abre muitas possibilidades para discussão.
Nessa visita pelo Google todos devem observar e fazer anotação de 3 lugares (ou 3 olhares para um ou mais lugares):
1. identificando elementos espaciais que achem interessantes;
2. identificando apropriações das pessoas;
3. identificando alguma transformação que tenha deixado o lugar mais aberto ao uso (para esse último devem recorrer ao histórico do Google Street View).
Em todos os níveis de observação vocês devem trazer discussões a partir dos conceitos do Hertzberger.
A ideia é que observem como vocês experienciam esses lugares pelo Google Street View e depois (no próprio espaço, que vão visitar) como experienciam presencialmente o espaço físico para discutirmos representação e experiência (contemplação e engajamento corporal / espetáculo e experiência), e também que isso sirva para aprofundar a discussão sobre o potencial dos espaços (não só constatação do existente).
Na visita ao espaço físico (presencial) devem ser feitos desenhos de observação para captar o que não foi captado na visita via Google Street View (seja por dificuldade de abstração ou por impossibilidade do próprio meio digital). A partir da aproximação pelos desenhos, devem elaborar um desenho mais demorado e expressivo, experimentando a imersão concentrada ouvindo a música "Für Alina" de Arvo Pärt (https://youtu.be/auD7AlDrHgI).
Todos devem fazer anotações sobre as camadas de informação e recursos próprios da imersão presencial nos lugares, prestando atenção em como isso se transforma no tempo e não é fixo (cheiros, sons etc.)
Todo o material produzido deve ser postado nos blogs e nos slides (podem criar mais slides por aluno) para apresentação em aula (contextualização do espaço para os colegas (zoom — cidade, bairro, entorno imediato, lugar(es) escolhido(s)); imagens representativas dos 3 olhares/lugares via Google Street View; anotações das discussões dos conceitos de Hertzberger; desenhos e fotos/vídeos presenciais do lugar/situação; anotações sobre as camadas de informação e diferenças das percepções sócio-espaciais via representação e presencial; e outros materiais produzidos a partir de especificidades locais).
Depois de terem feito o passeio não presencial pelo Google Street View e identificado os 3 tipos de lugar, sugerimos que vejam três conjuntos de referências.
Um primeiro é um levantamento feito pelo grupo urb i, usando imagens do Google Street View, de 41 espaços públicos que foram transformados, passando de meros espaços de circulação (antes) a espaços realmente de uso público (depois da transformação). A ideia é que vocês comecem a olhar para os espaços públicos imaginando seu potencial e não apenas registrando a situação atual. http://www.techinsider.io/urbi-before-after-gallery-2015-8?utm_content=bufferb2caf&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer-ti
Um segundo conjunto de referências (abaixo) traz fragmentos de textos para estimular a discussão sobre a experiência da representação e a experiência da cidade.
Qu’est qui limite la représentation?
~ O que limita a representação?
Brecht mandava colocar roupa molhada no cesto da atriz que representava a lavadeira para que seu quadril tivesse o movimento correto, o da lavadeira alienada. Muito bem; mas estúpido também, não? Pois o que pesa no cesto não é a roupa molhada, mas o tempo, a história; e como representar um peso tão grande como esse? É impossível representar o político: ele resiste a todas as cópias, mesmo quando você se esforça para representar ainda mais verosimilhança. Ao contrário da crença inveterada de todas as artes sociais, onde começa a política é onde cessa a imitação.
[Roland Barthes, Roland Barthes by Roland Barthes, London: Macmillan, 1988, p. 154.]
Sobre o Rigor na Ciência
...Naquele império, a Arte da Cartografia alcançou tal Perfeição que o mapa de uma única Província ocupava uma cidade inteira, e o mapa do Império uma Província inteira. Com o tempo, estes Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império que tinha o Tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto. Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as gerações seguintes decidiram que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedade entregaram-no às Inclemências do sol e dos Invernos. Nos Desertos do Oeste perduram despedaçadas Ruínas do Mapa habitadas por Animais e por Mendigos; em todo o País não há outra relíquia das Disciplinas Geográficas.
[Suárez Miranda: Viajes de Varones Prudentes, libro cuarto, capítulo XIV, Lérida, 1658. In: Jorge Luis Borges, História universal da infâmia, Rio de Janeiro: Globo, 1988. p. 71.]
"O mapa não é o território", 2002–2006
Dizemos que o mapa é diferente do território.
Mas o que é o território?
Operacionalmente, alguém saiu com uma retina ou uma vara de medir
e fez representações que foram depois postas no papel.
O que está no mapa em papel é uma representação do que estava
na representação retiniana da pessoa que fez o mapa;
e quando a questão é retomada,
o que se encontra é uma regressão infinita, uma série infinita de mapas.
O território nunca entra de fato. […]
O processo de representação irá filtrá-lo sempre, para que
o mundo mental seja apenas mapas de mapas, ad infinitum.
We say the map is different from the territory.
But what is the territory?
Operationally, somebody went out with a retina or a measuring stick
and made representations which were then put on paper.
What is on the paper map is a representation of what was in
the retinal representation of the man who made the map;
and as you push the question back,
what you find is an infinite regress, an infinite series of maps.
The territory never gets in at all. […]
Always, the process of representation will filter it out so that
the mental world is only maps of maps, ad infinitum.
"The Map Is Not The Territory," 2002–2006
[Gregory Bateson (1904–1980), Anthropologist, Cyberneticist, Linguist, & Social Scientist]
Para a discussão sobre representação na arquitetura e as possibilidades de sua superação enquanto paradigma (voltando o olhar para a interação e discutindo a inserção das novas tecnologias digitais nos processos de projeto): BALTAZAR, A. P. Além da representação: possibilidades das novas mídias na arquitetura. V!RUS, São Carlos, n. 8, dezembro 2012. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus08/?sec=4&item=1&lang=pt>
(Atenção: a interface do site é confusa. O artigo tem 4 "páginas", e a barra para passar para a próxima fica na parte superior)
Um terceiro conjunto agrupa referências que servem para ampliar a percepção sócio-espacial via representação mediada por ferramentas digitais, para além do Google Street View.
https://www.window-swap.com/
https://driveandlisten.herokuapp.com/
https://www.youtube.com/playlist?list=PL2-bvt2iog4e9tdoq-zZoB1-2SLWowRMM
https://www.webcamtaxi.com/en/
http://radio.garden/
Todos devem postar nos blogs o material apresentado pelo grupo no Seminário de Design de Interação e os vídeos dos objetos paramétricos individuais (incluindo pelo menos uma imagem do que foi proposto pelo grupo e informou o trabalho individual).